Endividamento sempre foi um risco de qualquer tipo de negócio.
Em tempos de pandemia, acabou se tornando a estratégia de enfrentamento da crise para muitas empresas de vários segmentos do mercado.
Iniciativas do governo para amenizar o efeito da crise ajudam, vide o caso da prorrogação do Pronampe.
Mas o endividamento descontrolado de muitas empresas ainda é preocupante.
Ainda em 2020, o IBGE contabilizou 14,1 milhões de desempregados e a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) apontou que 75 mil estabelecimentos comerciais fecharam em 2020.
Neste cenário de incertezas, muitas empresas ainda terão que se socorrer com os bancos para sobreviver.
Quem acompanha meu conteúdo sabe que não defendo a ideia de fórmulas mágicas que resolvem o problema das dívidas, como se vê muito por aí.
Mas existem algumas orientações de bom senso que precisam ser compartilhadas para o correto enfrentamento do endividamento empresarial.
Vou compartilhar algumas das nossas orientações, frutos da nossa experiência em lidar com empresas endividadas ao longo dos anos.
1. Descubra as causas do endividamento da sua empresa
Essa dica parece óbvia, mas não é!
O endividamento da empresa muitas vezes está envolvido por uma cortina de fumaça.
Chega um momento que ninguém sabe mais dizer o que levou a empresa a usar tanto o limite do cheque especial ou do cartão de crédito ou a fazer um empréstimo para capital de giro.
Isso pode ser reflexo de falta de planejamento, de uma gestão financeira ineficiente ou até da falta de controle sobre o estoque, que fazem sua empresa perder dinheiro sem que você perceba.
Além de implementar práticas de gestão mais eficientes em sua empresa, pode ser interessante contratar uma auditoria para descobrir as causas do endividamento da sua empresa.
Se a sua empresa não tem uma estrutura tão complexa, você pode fazer uma auditoria interna e buscar descobrir o que aconteceu.
O importante é identificar as causas do endividamento para que o problema não volte a ocorrer no futuro.
2. Negocie as dívidas com o banco
Um erro comum de muitos empresários é acreditar que os bancos não negociam.
Que a única saída para o endividamento seria pegar empréstimos com juros maiores para pagar dívidas antigas.
O saldo devedor da empresa vai crescendo e com o tempo uma dívida pequena se torna um monstro impagável.
Com a incidência dos juros, a dívida cresce num patamar que só aumenta a sensação de impotência da empresa.
Ocorre que para muitas empresas, simplesmente deixar de pagar a dívida não é uma opção.
Muitas precisam do nome limpo na praça ou não podem correr o risco do banco acabar tomando uma medida judicial para cobrar a dívida.
Nestes casos, é perfeitamente viável buscar um acordo com o banco.
Em muitos casos pode se conseguir um bom desconto para o pagamento da dívida, um parcelamento ou um prazo maior para pagar.
Também existe a opção de uma portabilidade para uma instituição que tenha uma taxa de juros menor e tenha um perfil de negociação mais flexível.
Isso já será suficiente senão para resolver, pelo menos para amenizar o endividamento da sua empresa..
3. Não deixe o banco te intimidar
Se em períodos de estabilidade econômica o endividamento empresarial não é uma situação tão incomum, O que se dizer de um período de crise sem precedentes como é o da pandemia.
Não há vergonha nenhuma em dever para o banco.
Por este motivo, você não deve se sentir intimidado a pagar a dívida de qualquer forma, sem ao menos negociar condições mais benéficas para sua empresa.
Demonstre que você está disposto a quitar a dívida, mas que determinadas condições precisam ser ajustadas previamente para que isso seja feito.
A depender do valor ou da complexidade dos contratos feitos com o banco, é interessante contar com a ajuda de um profissional de negociação ou um advogado.
Banco negocia diferente com pessoa jurídica
Todo banco está disposto a negociar dívidas de empresas, desde que isso seja feito de forma apropriada.
Note que até o perfil do gerente de pessoa jurídica é diferente.
Ele terá maior conhecimento do mercado e estará aberto a uma negociação feita de forma profissional.
Dados importantes que precisam ser levados para a rodada de negociação: área de atuação da empresa, histórico recente de faturamento, grau de risco do negócio, endividamento com fornecedores e outras instituições financeiras.
E muito importante: a pandemia afetou o seu negócio? Demonstre isso, de preferência com números e evidências.
Você precisa ter tudo isso documentado para levar até ao banco.
É muito importante que a empresa saiba falar a linguagem do banco, que consiga interpretar os sinais e descobrir quais as reais intenções do gerente ao negociar.
4. Cuidado com as armadilhas do banco
Você não precisa aceitar a primeira proposta que o banco fizer.
É muito tranquilo fazer contrapropostas e começar uma rodada de negociações, até que a situação fique mais vantajosa para sua empresa.
Fique atento, pois em cada rodada de negociação o banco vai querer melhorar sua posição na negociação.
Acabam oferecendo uma venda casada de um seguro ou título de capitalização, que você não é obrigado a aceitar.
Também é comum tentarem garantir a dívida com algum bem da sua empresa ou seu, pessoal.
Não é recomendado que você coloque bens pessoais para garantir a dívida da sua empresa, pois o banco pode tomá-lo posteriormente, mesmo que ele seja um bem de família.
E mesmo no caso de bens da empresa, é prudente você avaliar tecnicamente as condições em que essa garantia está sendo constituída.
Outra coisa que os bancos costumam fazer é tentar consolidar vários contratos diferentes em um só.
Por exemplo, quando a empresa tem várias linhas de crédito (cartão de crédito corporativo, empréstimos, financiamentos), cada uma delas é um contrato diferente.
Aqui temos uma armadilha!
O banco pode tentar consolidar todas as suas linhas de crédito em um só contrato, impondo uma garantia para todas elas.
Isso não é muito vantajoso para sua empresa.
É preciso ter cuidado com esse tipo de armadilha disfarçada de vantagem e concessão dada pelo banco.
Avalie prazo e a incidência de juros
Não foque apenas no valor das prestações.
O banco pode até fazer uma proposta em que as parcelas caibam no bolso da sua empresa, mas isso não significa necessariamente que a proposta é boa.
Há dois critérios que precisam ser analisados: juros e prazo de pagamento.
De nada adianta pagar uma prestação pequena se sua empresa vai ter que conviver com ela durante anos.
Isso pode comprometer seriamente a margem de lucro do seu negócio.
Se você diminui o prazo do pagamento, a incidência dos juros no acumulado da dívida acaba sendo menor, mesmo que isso signifique uma parcela um pouco maior.
Lembre-se: os juros são o custo do dinheiro ao longo do tempo.
Quanto mais tempo durar o seu empréstimo, mais você estará pagando juros.
Faça várias simulações possíveis antes de se decidir.
Se você gostou das nossas dicas, compartilhe nosso conteúdo e ajude outras empresas a enfrentar o tão temido endividamento empresarial.