Um servidor público de São Paulo nos procurou, há algum tempo, com uma dívida considerável num grande banco.
A dívida começou pequena, com empréstimos consignados. Com o tempo, o servidor começou a fazer empréstimos pessoais para pagar os atrasados do consignado. Depois, foram dívidas em outros bancos para cobrir os empréstimos pessoais.
Você já consegue ter uma ideia da bola de neve que arruinou as finanças deste servidor.
Com tantas pendências, o gerente de um dos bancos sugeriu a consolidação de todas as operações, unindo todas as dívidas em um só contrato, para deixar tudo “mais organizado”.
Parecia um excelente negócio, porque ele conseguiu um bom desconto e um refinanciamento com parcelas a perder de vista.
Contudo, o gerente pediu, em troca do “favor”, que ele apresentasse um bem em garantia.
O cliente ofereceu sua própria casa para garantir a dívida.
E o que parecia um bom negócio virou um pesadelo, pois não foi muito tempo até ele não conseguir pagar as parcelas refinanciadas.
Para piorar, ele deu ouvidos a um amigo que havia passado por situação semelhante, dizendo que bastava deixar a dívida envelhecer.
Daqui a dois anos, o banco esquece de você. Ou então, faz uma proposta de pagar menos da metade do valor original.
Sabe o que aconteceu?
Ele perdeu o imóvel para o banco.
O imóvel foi leiloado por um valor bem menor do que o de mercado e do que a própria dívida.
Enfim, o que quero mostrar para você nesta publicação é que alguns momentos são melhores do que outros para negociar com o banco.
Vou compartilhar com você agora uma parte importante do nosso método de negociação, e você vai entender quais situações influenciam no momento ideal para negociar com o banco.
Como os bancos tomam decisões?
Tenha em mente que essa é uma regra geral (que tem suas exceções): quanto mais recente o atraso do pagamento da dívida, mais inflexível o banco será para possíveis negociações.
Uma explicação para isso é que os bancos tomam decisões com base em estatísticas.
Nem sempre as decisões do seu gerente tem base em estatísticas, mas em grande medida elas são a base das tomadas de decisão dos bancos.
Cada banco tem um controle bastante rigoroso de alguns dados sobre o histórico de seus clientes.
Por exemplo, dados sobre a faixa de atraso e o percentual de operações inadimplentes.
Com estas duas informações, os bancos conseguem ter uma boa noção sobre quando é melhor tentar negociar com clientes dando descontos, e quando é melhor cobrar do cliente para que ele pague.
Assim, à medida em que as faixas de atraso vão aumentando, para garantir um nível de recuperação satisfatório, os bancos começam a dar condições mais vantajosas para o devedor.
Os bancos sabem, com base nas estatísticas, que se não fizerem assim, vão receber menos ainda e o prejuízo será maior.
Enquanto você perde noites de sono por conta das suas dívidas, o banco toma decisões com base em números.
Esse é um dado importante para assumirmos uma postura mais racional diante do banco, o que ajuda muito na estratégia para solução das suas dívidas.
Quanto maior o tempo da dívida, mais flexível o banco
Bom, então já sabemos que a regra é: quanto mais tempo o cliente fica inadimplente, maior o interesse da instituição em renegociar a dívida de forma mais flexível.
Mas nem sempre o banco vai fazer isso.
A disposição para a negociação depende muito da posição do banco com relação à dívida.
No exemplo do servidor público, o banco estava numa situação de vantagem muito grande.
A dívida estava garantida por um imóvel.
Entenda que a situação patrimonial do devedor deve ser considerada em sua estratégia de negociação.
Negociar com o banco ou esperar a dívida envelhecer?
Em alguns casos, esperar a dívida envelhecer pode ser um tiro no pé.
Mesmo que a dívida não esteja garantida por algum bem, ainda assim pode ser arriscado para o devedor deixar a dívida envelhecer.
Quando existem bens passíveis de penhora, por exemplo, não é aconselhado deixar de pagar a dívida.
Penhora é uma forma que o banco tem de buscar junto ao Poder Judiciário meios para forçar o devedor a pagar. Se o banco identificar bens no nome do devedor, tais como dinheiro em conta em outras instituições financeiras, imóveis, obras de artes, jóias, investimentos, ele pode buscar uma medida judicial para tomar estes bens para saldar a dívida.
Os bens podem ser apreendidos judicialmente e levados a leilão.
Os leilões judiciais costumam vender esses bens a valores bem abaixo do mercado.
O prejuízo de se pagar uma dívida por meio de leilão judicial é muito grande.
Sobre a estratégia de deixar a dívida envelhecer, confira esta publicação.
Uma saída que exige sacrifício
Para estes casos em que não é possível deixar a dívida envelhecer, existe uma saída que envolve um certo sacrifício.
Um sacrifício necessário para evitar um prejuízo maior.
Imagine que o devedor tenha muitos bens que possam ser penhorados.
Imóveis, veículos, obras de arte, joias e até cotas sociais de uma empresa.
O que pode ser feito nestes casos em que é arriscado simplesmente ignorar o banco e deixar a dívida envelhecer?
O devedor pode desfazer-se de parte desses bens para saldar a dívida.
Pense que se você vende seus bens, conseguirá um valor bem maior por eles do que o que será obtido em um leilão judicial.
Com esse dinheiro é possível quitar a dívida.
Ou então retomar a renegociação com o banco, tendo em vista que é comum o banco conceder um bom desconto para pagamentos à vista.
É o famoso “melhor um na mão do que dois voando”.
Lembre-se: o banco não se importa com você ter ficado inadimplente, ter ignorado as ligações do departamento de recuperação de crédito ou ter brigado com o gerente por não ter conseguido um desconto.
Ele é um agente racional: importa receber dentro desses critérios que estamos trazendo nesta publicação.
E no caso do empréstimo consignado?
Outra situação que possui suas particularidades é em relação ao empréstimo consignado.
De fato, é um pouco mais difícil de se negociar nesses casos, pois aqui a garantia do banco é o recebimento garantido pelo desconto direto no contracheque ou no benefício do INSS.
É por isso, inclusive, que as taxas do consignado são mais baixas do que o empréstimo pessoal, pois dão ao banco uma garantia maior de recebimento.
Aqui, existem duas saídas viáveis para conseguir um acordo com o banco ou tentar uma saída judicial.
A primeira é identificar uma distorção muito grande entre a taxa média do mercado e a taxa cobrada.
Nesta publicação, ensino o passo a passo para descobrir se a taxa cobrada pelo banco está muito acima da taxa média do mercado.
Caso contrário, é quase impossível cancelar o desconto na conta do seu cliente.
A situação é quando há comprovação de fraude.
Avaliação da situação patrimonial
Para finalizar, um outro detalhe importante da nossa metodologia de solução de dívidas bancárias está na avaliação da situação patrimonial do devedor.
É uma avaliação técnica e jurídica.
Este tipo de análise pode até agilizar a solução de alguns casos.
Por exemplo, você pode estar com receio de perder seus bens para o banco, mas uma análise da situação patrimonial pode mostrar que alguns desses bens ou todos eles não são penhoráveis do ponto de vista legal.
Este tipo de avaliação pode melhorar sua posição na negociação frente ao banco e, diante de um impasse, resolver de vez o problema.
Qual é o melhor momento para negociar com o banco?
Se você advoga em causas bancárias, precisa ter em mente que saber o melhor momento para negociar é uma parte extremamente importante da compreensão da dinâmica bancária.
Para iniciar, destaco uma primeira regra geral muito importante: quanto mais recente o atraso do pagamento da dívida, mais inflexível o banco tenderá a ser para possíveis negociações.
Uma explicação para isso é que a atividade bancária, em larga medida, apoia-se no tratamento estatístico de suas operações.
Cada banco tem um controle bastante rigoroso, por faixa de atraso, do percentual de operações inadimplentes que são regularizadas.
O banco sabe que a grande maioria dos pequenos atrasos são colocados em dia.
Por outro lado, na medida em que as faixas de atraso vão aumentando, para garantir um nível de recuperação satisfatório, os bancos começam a ofertar condições mais vantajosas.
Quanto mais tempo seu cliente está inadimplente, maior é o interesse da instituição financeira em renegociar a dívida.
Nesse sentido, surge a seguinte pergunta: se meu cliente parar de pagar o banco, significa que ele conseguirá um acordo?
Não necessariamente!
Inclusive, não é recomendável orientar seu cliente neste sentido, até por questões éticas.
Essa deve ser uma decisão pessoal dele.
Além disso, deve-se levar em conta outros fatores, como a situação patrimonial do cliente. Há bens passíveis de penhora? Em caso positivo, simplesmente deixar de pagar a dívida pode ser um mau negócio.
Uma segunda dica é que, apesar desse cenário narrado ser considerado uma regra entre os casos de dívidas bancárias, deve-se sempre ficar atento aos demais elementos do caso concreto.
Por exemplo, há casos em que o cliente conta com sólido patrimônio, que cobre a integralidade da dívida.
Desfazer-se de parte dos bens pode ser fundamental para saldar a dívida. Isso em razão de se ter chegado ao limite mínimo que o banco aceitará receber.
Pode ser que o banco prefira prosseguir na execução, para satisfazer o seu crédito leiloando o bem do seu cliente.
Outra situação que possui suas particularidades é em relação ao consignado.
De fato, é um pouco mais difícil de se negociar nesses casos, não havendo um momento considerado ideal para isso.
Trata-se de uma modalidade em que a única hipótese viável para conseguir um acordo é se você identificar uma distorção muito grande entre a taxa média do mercado e a taxa cobrada.
Caso contrário, é quase impossível cancelar o desconto na conta do seu cliente.
A outra hipótese é quando há comprovação de fraude.
É por isso, inclusive, que as taxas do consignado são mais baixas do que o empréstimo pessoal, pois dão ao banco uma garantia maior de recebimento.
O importante é estar sempre atualizado sobre o assunto.
Você deve estar preparado para entender essas questões e orientar o seu cliente da melhor forma possível, especialmente, frente às particularidades do caso concreto.